O
que seria coragem para você? Esta parece ser
uma pergunta muito simples, mas com muitas respostas. Na busca
por uma definição precisa, a primeira idéia
seria buscar a opinião de um especialista.
Mas quem seria especialista verdadeiro em um assunto desses. Certamente
existem as definições que podem ser encontradas
nos livros. Porém, nada substitui ou explica completamente
o sentimento humano.
Nesse caso, o assunto fica ainda mais complexo, pois cada pessoa
pode ter sentimentos diferentes com relação a uma
dada situação. Desconsidero aqui todas aquelas situações
onde a coragem é motivada por ação
de drogas, raiva, ciúmes, inveja ou outro sentimento qualquer
que nos faça reagir por impulso. Também descarto
a situação na qual agimos em completa ignorância.
Isto é, não sabemos onde estamos nos metendo.
Essas situações não caracterizam o que chamamos
de coragem, pois existe a presença de outros fatores que
mascaram, de alguma forma, uma das emoções mais
comuns do ser humano: o medo.
Assim, parece que já achamos um primeiro parâmetro
ligado à coragem: a presença do medo. Sentir medo
é, portanto, condição necessária para
o sentimento de coragem. Note que isso não se refere ao
que é julgado externamente, mas ao que é sentido
pelo indivíduo. Na verdade, visto que a coragem é
um sentimento, algo individual, não pode ser definida em
uma escala absoluta para todos, mas relativa a cada indivíduo.
Isto é, não seria correto dizer que uma pessoa tem
mais coragem do que outra. Qual seria a referência comum?
Talvez o mais correto seria dizer que uma pessoa precisou de mais
coragem do que outra para uma determinada tarefa. Um cego, por
exemplo, atravessando uma ponte suspensa estreita, feita de madeira
e cordas, sobre um enorme precipício pode fazê-lo
tranqüilamente após alguém ter dito a ele que
a ponte atravessava um pequeno riacho a um metro de altura. Visto
de fora, a travessia parece um ato de enorme coragem. Porém,
em nenhum momento o cego precisou de coragem. Ele não via
o perigo. O verdadeiro sentimento de coragem nasce, portanto,
no medo. Assim a coragem deve ser pelo menos, do mesmo tamanho
que o medo, para que o supere.
O interessante é que cada pessoa, reage de maneira diferente,
em diferentes situações. Isto é, uma dada
situação é encarada com mais ou menos apreensão
ou medo por uma determinada pessoa, dependendo de vários
fatores como: familiaridade, experiência anterior, importância
do evento, saúde, etc
Em geral, o medo surge em intensidades que são ligadas
diretamente ao grau de perigo que associamos à
determinada situação. Esse perigo pode
significar risco a qualquer coisa que consideramos importante
naquele momento. Pode ser a própria vida. Pode ser a rejeição
da namorada. De qualquer forma, o corpo reage ao medo de maneira
característica, procurando, de forma geral nos preparar
para enfrentar o perigo. O batimento cardíaco
aumenta, suamos frio, ficamos brancos, os pensamentos
ficam mais confusos, etc. Todo mundo sabe como é. Afinal,
quem nunca sentiu medo?
Nessa seqüência de raciocínio, observe que o
nível do medo também não é algo absoluto,
mas sim relativo. O que quero dizer com isso é que também
não existe uma escala universal de medo para
todos. A intensidade de uma situação, o grau
de medo depende de cada pessoa. Isto é, suponha uma
pessoa que não goste de altura (tenha medo de altura).
Provavelmente o grau do medo medido pelas reações
do corpo dessa pessoa quando colocada sobre um telhado de uma
casa térrea será muito maior que o grau de
medo de um astronauta durante uma atividade extra-veicular
na Estação Espacial Internacional (ISS), a 400 km
de altitude. Agora, note que coisa interessante. Se isso é
verdade, e sabendo que a coragem deve ser medida em escala relativa
que depende do grau do medo, então poderíamos
dizer que fulano precisou de mais coragem para ficar sobre o telhado
do que o astronauta para ficar fora da espaçonave por 8
horas a 400 km de altitude!
Coisas diferentes como, ficar no escuro para uma criança
de 5 anos, dirigir pela primeira vez no centro da cidade para
um adolescente, falar eu te amo para muitas idades,
apresentar um trabalho perante uma platéia, pilotar um
avião de caça durante uma missão de guerra
sobre o território inimigo, lutar contra uma doença,
etc...podem gerar, para cada indivíduo desses o mesmo grau
de medo, e portanto, necessitarem do mesmo grau de
coragem para superá-las.
Notou como as coisas são relativas?
Então o que faz a diferença? O que nos faz vencer
o medo e realizar, quando ninguém teve coragem
para assumir os desafios? Qual é essa motivação
que nos impulsiona?
É nesse ponto que entra a necessidade de um ideal, de preparação
emocional e de determinação. O ideal é essencial
para termos uma causa, uma meta para podermos projetar
o futuro. A preparação emocional nos permite manter
o foco, a concentração, na execução,
apesar dos fatores externos e dos efeitos do medo sobre o nosso
corpo. Isso vem com treinamento e fé. Acredite quando alguém
disser que Deus pode te salvar. Vale em todas as formas. A calma
pode significar a diferença entre viver e morrer. Para
a determinação, é preciso misturar um pouco
de cada: teimosia, otimismo, imaginação e desprendimento.
Essas coisas, juntas constroem o sentimento de vou tentar
até conseguir.
Portanto, parece que coragem não é nada
de mais, é algo que todos nós temos. Não
é algo de extraordinário que apenas aqueles que
colocam a vida em missões espaciais e outras atividades
de risco possuem. Todos nós temos, e muito. Na verdade
significa basicamente a determinação de encarar
nossos medos e continuar a caminhar para nossos objetivos apesar
de todos os obstáculos do caminho. Significa acreditar
em você mesmo. Saber que suas atitudes são para o
bem. Manter suas convicções e agir por elas, independentemente
do que pensam e falam. Isso é coragem.
Então, no final das contas, por que eu escrevi tudo isso?
Simples.
Eu queria demonstrar que ter coragem é comum
a todos nós. Portanto, todos podemos realizar qualquer
coisa, desde que realmente tenhamos um ideal, fé e determinação.
E assim, nesse momento em que eu inicio um novo desafio em minha
vida: fazer a minha parte para termos uma educação
decente para todas as crianças desse país, independente
da ação ou não do governo, eu queria dizer
que tenho medo. Mas que também tenho coragem para vencer
e realizar. Nesse momento, eu queria convidar a você,
que também acredita nesse país, a se juntar a mim
nessa missão. Você tem coragem?
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