CORAGEM

Você faria a sua parte?
Marcos Pontes

O que seria “coragem” para você? Esta parece ser uma pergunta muito simples, mas com muitas respostas. Na busca por uma definição precisa, a primeira idéia seria buscar a opinião de um “especialista”. Mas quem seria especialista verdadeiro em um assunto desses. Certamente existem as definições que podem ser encontradas nos livros. Porém, nada substitui ou explica completamente o sentimento humano.
Nesse caso, o assunto fica ainda mais complexo, pois cada pessoa pode ter sentimentos diferentes com relação a uma dada situação. Desconsidero aqui todas aquelas situações onde a “coragem” é motivada por ação de drogas, raiva, ciúmes, inveja ou outro sentimento qualquer que nos faça reagir por impulso. Também descarto a situação na qual agimos em completa ignorância. Isto é, não sabemos “onde estamos nos metendo”. Essas situações não caracterizam o que chamamos de coragem, pois existe a presença de outros fatores que mascaram, de alguma forma, uma das emoções mais comuns do ser humano: o medo.
Assim, parece que já achamos um primeiro parâmetro ligado à coragem: a presença do medo. Sentir medo é, portanto, condição necessária para o sentimento de coragem. Note que isso não se refere ao que é julgado externamente, mas ao que é sentido pelo indivíduo. Na verdade, visto que a coragem é um sentimento, algo individual, não pode ser definida em uma escala absoluta para todos, mas relativa a cada indivíduo. Isto é, não seria correto dizer que uma pessoa tem mais coragem do que outra. Qual seria a referência comum? Talvez o mais correto seria dizer que uma pessoa precisou de mais coragem do que outra para uma determinada tarefa. Um cego, por exemplo, atravessando uma ponte suspensa estreita, feita de madeira e cordas, sobre um enorme precipício pode fazê-lo tranqüilamente após alguém ter dito a ele que a ponte atravessava um pequeno riacho a um metro de altura. Visto de fora, a travessia parece um ato de enorme coragem. Porém, em nenhum momento o cego precisou de coragem. Ele não via o perigo. O verdadeiro sentimento de coragem nasce, portanto, no medo. Assim a coragem deve ser pelo menos, “do mesmo tamanho” que o medo, para que o supere.
O interessante é que cada pessoa, reage de maneira diferente, em diferentes situações. Isto é, uma dada situação é encarada com mais ou menos apreensão ou medo por uma determinada pessoa, dependendo de vários fatores como: familiaridade, experiência anterior, importância do evento, saúde, etc
Em geral, o medo surge em intensidades que são ligadas diretamente ao “grau de perigo” que associamos à determinada situação. Esse “perigo” pode significar risco a qualquer coisa que consideramos importante naquele momento. Pode ser a própria vida. Pode ser a rejeição da namorada. De qualquer forma, o corpo reage ao medo de maneira característica, procurando, de forma geral nos preparar para enfrentar o “perigo”. O batimento cardíaco aumenta, “suamos frio”, ficamos brancos, os pensamentos ficam mais confusos, etc. Todo mundo sabe como é. Afinal, quem nunca sentiu medo?
Nessa seqüência de raciocínio, observe que o nível do medo também não é algo absoluto, mas sim relativo. O que quero dizer com isso é que também não existe uma “escala universal de medo” para todos. A intensidade de uma situação, o “grau de medo” depende de cada pessoa. Isto é, suponha uma pessoa que não goste de altura (tenha “medo de altura”). Provavelmente o “grau do medo” medido pelas reações do corpo dessa pessoa quando colocada sobre um telhado de uma casa térrea será muito maior que o “grau de medo” de um astronauta durante uma atividade extra-veicular na Estação Espacial Internacional (ISS), a 400 km de altitude. Agora, note que coisa interessante. Se isso é verdade, e sabendo que a coragem deve ser medida em escala relativa que depende do “grau do medo”, então poderíamos dizer que fulano precisou de mais coragem para ficar sobre o telhado do que o astronauta para ficar fora da espaçonave por 8 horas a 400 km de altitude!
Coisas diferentes como, ficar no escuro para uma criança de 5 anos, dirigir pela primeira vez no centro da cidade para um adolescente, falar “eu te amo” para muitas idades, apresentar um trabalho perante uma platéia, pilotar um avião de caça durante uma missão de guerra sobre o território inimigo, lutar contra uma doença, etc...podem gerar, para cada indivíduo desses o mesmo “grau de medo”, e portanto, necessitarem do mesmo “grau de coragem” para superá-las.
Notou como as coisas são relativas?
Então o que faz a diferença? O que nos faz vencer o medo e “realizar”, quando ninguém teve “coragem” para assumir os desafios? Qual é essa “motivação” que nos impulsiona?
É nesse ponto que entra a necessidade de um ideal, de preparação emocional e de determinação. O ideal é essencial para termos “uma causa”, uma meta para podermos projetar o futuro. A preparação emocional nos permite manter o foco, a concentração, na execução, apesar dos fatores externos e dos efeitos do medo sobre o nosso corpo. Isso vem com treinamento e fé. Acredite quando alguém disser que Deus pode te salvar. Vale em todas as formas. A calma pode significar a diferença entre viver e morrer. Para a determinação, é preciso misturar um pouco de cada: teimosia, otimismo, imaginação e desprendimento. Essas coisas, juntas constroem o sentimento de “vou tentar até conseguir”.
Portanto, parece que “coragem” não é nada de mais, é algo que todos nós temos. Não é algo de extraordinário que apenas aqueles que colocam a vida em missões espaciais e outras atividades de risco possuem. Todos nós temos, e muito. Na verdade significa basicamente a determinação de encarar nossos medos e continuar a caminhar para nossos objetivos apesar de todos os obstáculos do caminho. Significa acreditar em você mesmo. Saber que suas atitudes são para o bem. Manter suas convicções e agir por elas, independentemente do que pensam e falam. Isso é coragem.
Então, no final das contas, por que eu escrevi tudo isso?
Simples.
Eu queria demonstrar que “ter coragem” é comum a todos nós. Portanto, todos podemos realizar qualquer coisa, desde que realmente tenhamos um ideal, fé e determinação.
E assim, nesse momento em que eu inicio um novo desafio em minha vida: fazer a minha parte para termos uma educação decente para todas as crianças desse país, independente da ação ou não do governo, eu queria dizer que tenho medo. Mas que também tenho coragem para vencer e “realizar”. Nesse momento, eu queria convidar a você, que também acredita nesse país, a se juntar a mim nessa missão. Você tem coragem?

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